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A primeira calça feminina: Bloomer

Bloomer

Hoje é tão normal mulheres usarem calças que a gente nem lembra que essa peça é muito nova no guarda-roupa feminino. E muito importante na nossa luta diária por direitos iguais. Desde que foram “inventadas”, as calças foram por muitos séculos exclusivamente de uso masculino. Já parou para pensar quando conquistamos o direito de usá-las também?

Demorou muito para que as mulheres conseguissem usar calças sem serem mal vistas nas ruas, o que foi uma grande e demorada conquista para a luta feminista.

A primeira tentativa um pouco mais bem-sucedida resultou na calça conhecida como Bloomer. Algumas mulheres já haviam sido vistas individualmente usando calças, como a duquesa de Montrose, que em 1847 as usou para caçar, e a romancista francesa George Sand, que trajou um terno masculino. No entanto, a primeira vez que a peça foi usada de maneira mais ampla foi em meados do século XIX.

Isso ocorreu na Era Vitoriana, período em que as mulheres ideais eram recatadas, delicadas e donas de casa inativas, servindo como objetos que exibiam que seus maridos obtinham sucesso com a Revolução Industrial. Ao mesmo tempo, especialmente nos EUA, a educação tornava-se mais acessível às mulheres, onde as Universidades públicas as aceitavam. Com isso, saindo para um mundo mais amplo que o da sala de visitas de suas casas, algumas mulheres começaram a questionar seu lugar na sociedade.

Na primeira foto o Bloomer. Na segunda o vestuário vitoriano: saias enormes e pesadas cheias de anáguas, cintura fina, corpete rígido. É a mesma silhueta do New Look.

O visual Bloomer, criado por Elizabeth Smith Miller, foi uma das mais conhecidas tentativas de reformulação do vestuário do século XIX. Os protestos cresciam conforme o vestuário vitoriano tornava-se mais elaborado. As adeptas da reforma do vestuário ansiavam liberar as mulheres dos exageros da silhueta vitoriana, da diferenciação social por meio do vestuário e da desigualdade de gênero.

Adotado pelas reformistas da moda feminina em 1851, o visual consistia em calças bufantes apertadas nos tornozelos por babados ou laços, túnica de saia ampla que ia até abaixo dos joelhos e cintura ainda apertada, como exigido na época. Botas de couro macio e chapéu de palha de abas largas completavam o visual.

O nome é uma homenagem à feminista americana Amelia Jenks Bloomer, que apesar de não ter inventado o estilo, foi a maior promotora dele. Em 1848, inspirada por colegas da campanha pela igualdade de gênero, lançou o jornal The Lily, dedicado a assuntos femininos. Em uma de suas publicações, escreveu sobre o visual com tanto entusiasmo que seu nome passou a ser seu sinônimo.

Ela levou o Bloomer à Grã Bretanha e, como era de se esperar de uma sociedade patriarcal, sofreu muitas críticas. A revista britânica The Punch, semanário satírico, não se cansou de ridicularizar o bloomerismo. Cartunistas desenhavam charges que demonstravam mulheres vestidas com bloomer adotando outros hábitos exclusivamente masculinos, como uma afronta à sensibilidade da mulher inglesa distinta.

Charges do The Punch que retratavam mulheres usando Bloomer em situações que eram estritamente masculinas.

Não foram muitas as mulheres que adotaram o bloomerismo e as duras críticas causaram a morte do modismo curto, porém notório, e de extrema importância para a luta feminista. A vestimenta acabou abandoada por depor contra a própria causa. Amelia foi uma das últimas a resistir usando o modelo, até 1859 quando o abandonou de vez.

As criolinas, que começaram a ser usadas no lugar das anáguas, podem ter contribuído também para a desaprovação do bloomer, já que eram uma alternativa menos pesada e incômoda no que diz respeito ao uso das saias volumosas.

Mas, para aqueles que pensaram que o estilo havia morrido, Amelia Bloomer teve a felicidade de ver (ou não, pois faleceu em 1894) o visual que tanto defendeu sendo bastante utilizado nas ruas nos anos 1890. Com a urbanização, as bicicletas se tornaram bastante populares. Para andar com conforto, mulheres utilizavam o que chamavam de saia bifurcada que, apesar de ser diferente do bloomer, também levava o nome, lembrando a importante época que deu o primeiro passo para a liberdade e a emancipação do opressor vestuário feminino.

- O céu não é aí?

- Sim, mas essa é a entrada das damas.

Bloomer 1890 bicicleta

O Bloomer voltou na década de 1890 como roupa para andar de bicicleta.

As calças foram por muito tempo aceitas apenas como vestuário esportivo ou de praia. Nos anos 1920, Chanel já utilizava calças largas em seu dia-a-dia, mas apenas em meados dos anos 1930 é que começaram a ser realmente aceitas como traje informal também feminino. Atrizes como Marlene Dietrich, Katharine Hepburn e Greta Garbo, defenderam os benefícios emancipatórios da peça para mulheres.

Chanel, Greta Garbo, Katharine Hepburn e Marlene Dietrich: calça é coisa de mulher também.

Fontes:

FOGG, Marnie. Tudo sobre moda. Tradução Débora Chaves, Fernanda abreu, Ivo Korytowski . Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

MACKENZIE, Mairi. Ismos: para entender moda. Tradução Christiano Sensi. São Paulo: Globo, 2010.

STEVENSON, Nj. Cronologia da moda: de Maria Antonieta a Alexander McQueen. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.

Sou Juliana Novaes, nascida e criada em Brasília. Como boa brasiliense criativa, me formei em Arquitetura e Urbanismo, mas meu amor sempre foi a Moda. Designer de Moda e apaixonada por figurino e pela história, resolvi criar o blog para compartilhar meu conhecimento, curiosidade, e amor pelo tema.

Sejam bem-vindos.

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